segunda-feira, dezembro 28, 2009

"La mer et le vent"

Victor Hugo



Les Travailleurs de la mer, chapitre "La mer et le vent", manuscrit original lu par André Wilms à la salle Labrouste, Site Richelieu, Bnf

© margarida araújo

domingo, dezembro 27, 2009

na estrada de san romano


























André Breton
"Máscara Africana"
1947-48

A poesia como o amor faz-se na cama

Os seus lençóis desfeitos são a aurora das coisas
A poesia faz-se nas matas
Tem todo o espaço de que precisa
Não este mas o outro condicionado por


O olho do milhafre
O orvalho sobre a cavalinha
A lembrança de Traminer embaciada em bandeja de prata
Uma alta vara de turmalina sobre o mar
E a estrada da aventura mental
Que sobe a prumo
Pára e fica logo coberta de mato


Isto não se apregoa aos quatro ventos
Não é conveniente deixar a porta aberta
Ou chamar testemunhas


Os cardumes de peixes os bandos de melharucos
Os carris à entrada duma grande estação
As luzes das duas margens
Os sulcos do pão
A espuma da ribeira
Os dias do calendário
O hipericão


Acto de amor e acto de poesia
São incompatíveis
Com a leitura do jornal em voz alta


O sentido do raio de sol
O clarão azul que liga as machadadas do lenhador
O fio do papagaio de papel em forma de coração ou de laço
O batimento ritmado da cauda dos castores
A diligência do relâmpago
O arremesso de confeitos do alto de velhas escadas
A avalanche


A câmara dos sortilégios
Não cavalheiros não é a oitava Câmara
Nem os vapores da camarata ao domingo à noite


Os passos de dança transparentes por cima dos mares
A demarcação na parede dum corpo de mulher ao lançar de punhais
As claras volutas do fumo
Os anéis do teu cabelo
A curva da esponja das Filipinas
Os nós da serpente vermelha
A entrada da hera nas ruínas
Tem todo o tempo à sua frente
O abraço poético como o abraço carnal
Enquanto dura
Impede toda a fugida sobre a miséria do mundo


andré breton

segunda-feira, dezembro 21, 2009

"Natal e não Dezembro"



Presépio
Ferreira da Silva

Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.


David Mourão-Ferreira
Cancioneiro de Natal

















Natividade
Armando Correia





Falavam-me de Amor


Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,

menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.


O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.


Natália Correia
O Dilúvio e a Pomba
Lisboa, Publicações D. Quixote, 1979



Presépio
Armando Correia, 2006

Desejo-vos um 2010 feliz!

A magnólia



A magnólia




A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.

Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária,e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.


A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.





© margarida araújo

Luiza Neto Jorge

O seu a seu tempo
organização e prefácio de
Fernando Cabral Martins
Assírio & Alvim
2ª edição

2001


quinta-feira, dezembro 17, 2009

"Uma Noite na Biblioteca" do Museu Malhôa



"(...)Aquilo que uma biblioteca deseja, não o pode alcançar. Seja ela imensa ou restrita, real ou provincial, antiga ou moderna, jamais atingirá a imensidão que a alimenta, jamais aquilo que contém terá a evidência dum simples cabelo, duma pedra, dum alguidar, jamais será como aquele mapa famoso e lendário que se confunde com o território em cada um dos seus pontos porque é o território. (...)"

Uma noite na biblioteca de Jean-Christophe Bally, tradução de Christine Zurbach

17, 18 e 19 de Dezembro, 21h30m
MUSEU MALHÔA
Caldas da Rainha