terça-feira, julho 06, 2010

Uma Viagem à Costa Rica

XXII




"A última aldeia ficava a mais de seis horas de subidas íngremes e resvaladiças. Decidi parar ainda antes do anoitecer. Acendi o lume que agora se vai extinguir e abriguei-me debaixo destas raízes suspensas, um pouco monstruosas, pois lembram um céu vivo, em contínua expansão. Eu e o meu firmamento na floresta virgem, desaconselhada – último capricho de um viajante que não encontra motivos para o seu regresso? Enrolei-me na manta. Dormira cerca de duas horas, atravessado pelos sonhos que a cada momento me fazem diferente. E anoitecia. A noite voltava à tomada de tudo, mas ia concedendo uma parcela de azul forte a Oeste, sombreada por nuvens, aqui e ali violácea, abrindo uma passagem no emaranhado de raízes e imagens de raízes."

José Ricardo Nunes
in Uma Viagem à Costa Rica, ed. do autor
fotografias de Margarida Araújo