terça-feira, novembro 11, 2008

Dia de S. Martinho - "O Homem das Castanhas"


O Homem das Castanhas

Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,
à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.


É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.


Ary dos Santos

5 comentários:

João B. Serra disse...

Ora aqui está uma fotografia de um assador de rua que, pelo menos em Lisboa, já se não vê. Com a fiscalização da ASAE, o metal substitui a madeira, as castanhas assadas estão depositadas em recipientes e evidentemente o saco do sal está protegido.

João B. Serra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Margarida Araújo disse...

Nem sabia, João.

gaivota disse...

o homem das castanhas e quem compra leva mais amor casa...
muito bonito pelas mãos do sasudoso ary
beijinhos

Higino disse...

Este Outono está produtivo.
Beijinhos das Caldas