quarta-feira, novembro 19, 2008



"Os cineastas têm um arco-voltaico incandescente num coração que bate a 24 imagens por segundo.

Os fotógrafos, esses, revelam-nos o infinito à velocidade da luz"

José Carlos Faria




sexta-feira, novembro 14, 2008

Lagoa de Óbidos - 4 quadrantes, 20 olhares

24h em katamaram na Lagoa, 2007
Visita de estudo do Colégio Rainha D. Leonor em colaboração com a Associação Mar d'Água, 2007




terça-feira, novembro 11, 2008

Dia de S. Martinho - "O Homem das Castanhas"


O Homem das Castanhas

Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,
à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.


É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.


Ary dos Santos

segunda-feira, novembro 10, 2008

"Não sei com dizer-te.."

"Não sei como dizer-te que minha voz te procura e a atenção começa a florir, quando sucede a noite esplêndida e vasta. Não sei o que dizer, quando longamente teus
pulsos se enchem de um brilho precioso e estremeces como um pensamento chegado. Quando, iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado pelo pressentir de
um tempo distante, e na terra crescida os homens entoam a vindima - eu não sei como dizer-te que cem ideias, dentro de mim te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.

Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante
a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço –
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios,
sinto que me faltam um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milgares
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
que te procuram.


Herberto Helder

Lago dos Cisnes, Parque das Caldas


Swan Lake Odette Variation, TCHAIKOVSKY (Svetlana Zakharova)














quinta-feira, novembro 06, 2008

Stardust


Dave Brubeck - Stardust

quarta-feira, novembro 05, 2008

terça-feira, novembro 04, 2008

A Importância da Arte

Gustav Courbet (1828-1885)
Seacoast

"A arte é, provavelmente, uma experiência inútil; como a «paixão inútil» em que cristaliza o homem. Mas inútil apenas como tragédia de que a humanidade beneficie; porque a arte é a menos trágica das ocupações, porque isso não envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de música, fazia-se um deserto extraordinário. Acreditem que os teares paravam, também, e as fábricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A arte é, no entanto, uma coisa explosiva. Houve, e há decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam à experiência inútil que é a arte, pessoas como Virgílio, por exemplo, e que sabem que o seu silêncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente e só ficasse no ar o ruído dos motores, porque até o vento se calava no fundo dos vales, penso que até as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitória, com a mansidão das coisas estéreis. O laço da ficção, que gera a expectativa, é mais forte do que todas as realidades acumuláveis. Se ele se quebra, o equilíbrio entre os seres sofre grave prejuízo."


Agustina Bessa-Luís, in Dicionário Imperfeito


The Music Teacher - Ich Bin Der Welt Abhanden Gekommen






quinta-feira, outubro 30, 2008

Toumani Diabaté 'Cantelowes'

Música Pintada Vassily Kandisky

Horizontal, 1924
Improvisation 30, 1913
The Art Institute of Chicago
(aqui a lembrar as cores da cerâmica do Eduardo Constantino)

terça-feira, outubro 28, 2008

Pelas texturas e brilhos CHROMA Eduardo Constantino











Pelas cores CHROMA Eduardo Constantino







Pelas Formas CHROMA Eduardo Constantino




CHROMA de Eduardo Constantino


Se ainda não foram, não deixem de ir à Galeria Ogiva em Óbidos (até 2 de Novembro)
(...)
"Se a natureza é matéria, a reconstrução a que o ceramista procede, tirando partido do que podemos antecipar para melhor preparar a explosão da metamorfose, é um exercício idêntico ao da poética. Estamos perante o que os gregos , para distingui a mera reprodução do real da narração criativa chamaram transfiguração. A transfiguração torna possível um novo mundo. Este é talvez o conceito que melhor identifica a obra de Eduardo Constantino"
João B. Serra in Eduardo Constantino CHROMA, catálogo da exposição, Galeria Ogiva, Out./Nov. 2008

Jade


quinta-feira, outubro 23, 2008

"Retrato quase apagado em que se pode ver perfeitamente nada"

"Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases.
Por exemplo:- Imagens são palavras que nos faltaram.-
Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.-
Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira.
Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo:
há pessoas que se compõem de actos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras."

Manoel de Barros
"O Guardador de Águas"

quarta-feira, outubro 22, 2008

Candido Portinari (1903-1962)

Clarinetista,1961
Pintura a têmpera/tela 195 x 129 cm
Colecção particular, Belo Horizonte


Músico c.1959
Pintura a óleo/cartão 24.5 x 13.8 cm
Colecção particular, Rio de Janeiro

Aquarela do Brasil, Ari Barroso





Clarinetista,1960
Pintura a óleo/madeira 63 x 52cm (aproximadas)
Colecção particular, Belo Horizonte












"Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria.
És uma faca cravada na minhavida secreta.
E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outronas trevas.
"Herberto HelderPHOTOMATON & VOX
Assírio & Alvim1995

quarta-feira, outubro 15, 2008

Música Pintada, Henri Matisse (1869-1954)

A Música
1939
óleo s/ canvas (115.2 x 115.2 cm)
Albright-Knox Art Gallery, Buffalo, NY

O Alaúde
Fevereiro 1943
Óleo s/ canvas (59.4 x 79.5 cm)
Colecção privada


A Lição de Música

1917

Óleos s/ canvas(244.7 x 200.7 cm)

Barnes Foundation, Merion, PA


STING & EDIN KARAMAZOV - ST LUKES CONCERETTE PART 2


Música Pintada, Henri Matisse (1869-1954)

Jazz (1947) é um livro com cerca de cem gravuras feitas com base em recortes de papel. Os temas são o teatro e o circo. A linha de orientação, a improvisão, daí Jazz.
O artista escreveu em 1947 a um amigo " Existem coisas maravilhosas no verdadeiro jazz, o talento de improvisar, a vivência, do músico e do público tornarem-se apenas num".


Ícarus
1947
da série "Jazz"


O Destino
Plate XVI da série "Jazz"
O Lançador de facas
XV da série "Jazz"
O Circo
Plate II da série"Jazz"

Charlie Parker & Dizzy Gillespie


Música Pintada

"Música pintada" foi uma recolha feita no ano passado numa homenagem à pintura e à música.
A vossa ajuda será bem vinda.

sábado, outubro 11, 2008


vai assim de fundo negro dos meus olhos
escrito cor de vinho embebedado
vai assim como um tango colado
um swing molhado
vai assim em forma de beijo-mel
uma boca para tocar
um lábio por morder
um dedo para te desenhar no meu corpo
vai assim, aqui todo o meu afecto
que rebenta no meu peito
e canta e chora
a dançar, sempre a dançar
numa nuvem, numa estrela
procurando o meu par
E a lua pasmada a olhar
numa fase de amor crescente
sempre numa fase cheia
de saudades
que não vêem fases minguantes



m.

sexta-feira, outubro 10, 2008

"Para entender nós temos dois caminhos"


"Para entender nós temos dois caminhos:

o da sensibilidade que é o entendimentodo corpo;e o da inteligência que é o entendimentodo espírito.Eu escrevo com o corpo.Poesia não é para compreender,

mas para incorporar.Entender é parede; procure ser árvore."


Manuel de Barros


quinta-feira, outubro 09, 2008

terça-feira, setembro 02, 2008

"Fotografam tudo o que lhes agrada, mesmo o que nada diz ao olhar desprevenido dos outros: o entrelaçar das silvas e dos tojos na vertente semiobscura onde os ramos dos zambujeiros se inclimam até ao solo; a nudez das oliveiras velhas contra a lua; o reflexo projectado no chão por aqueles arbustros de um branco esverdeado, de que eles não sabem o nome; o manto vermelho, o fulgor dos peixes, em rápidos voos, no tanque onde Lionel diz ter plantado sonhos na infância."

in Urbano Tavares Rodrigues
A Bela e o Monstro, publicado em Carnaval Negro, Edições ASA

domingo, agosto 10, 2008

Origem dos sonhos esquecidos


Entre a bicicleta e a laranja
vai a distância de uma camisa branca
Entre o pássaro e a bandeira
vai a distância dum relógio solar
Entre a janela e o canto do lobo
vai a distância dum lago desesperado
Entre mim e a bola de bilhar
vai a distância dum sexo fulgurante
Qualquer pedaço de floresta ou tempestade
pode ser a distância
entre os teus braços fechados em si mesmos
e a noite encontrada para além do grito das panteras
qualquer grito de pantera
pode ser a distância
entre os teus passos
e o caminho em que eles se desfazem lentamente
Qualquer caminho
pode ser a distância
entre tu e eu
Qualquer distância
entre tu e eu
é a única e magnífica existência
do nosso amor que se devora sorrindo

Mário Henrique Leiria
in A Única Real Tradição Viva
Perfecto E. Cuadrado
Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa
Assírio & Alvim
1998

óleos de Tuner

Luar, 1840
Paz, 1842

Sombras na escuridão, 1843


quinta-feira, agosto 07, 2008

"AS COORDENADAS LÍRICAS"


Lagoa de Óbidos, Agosto 2008



"Desviou-se o paralelo um quase nada


e tudo escureceu:


era luz disfarçada em madrugada


a luz que me envolveu




A geométrica forma de meus passos


procura um mar redondo.


Levo comigo, dentro dos meus braços,


oculto, todo o mundo.




Sozinha já não vou. Apenas fujo às negras emboscadas.


Em cada esfera desenho o meu refúgio


— as minhas coordenadas."


FERNANDA BOTELHO
de Coordenadas Líricas

quinta-feira, julho 24, 2008

"As coisas assim a gente não perde nem abarca"

Lagoa de Óbidos, 24.07.08, 22h



"As coisas assim a gente não perde nem abarca.
Cabem é no brilho da noite.
Aragem do sagrado.
Absolutas estrelas".

João Guimarães Rosa


"Infelicidade é questão de prefixo."

João Gomes Rosa


"Qualquer amor é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."

João Guimarães Rosa

Imogen Cunningham
The Unmade Bed
1957

quinta-feira, julho 17, 2008

AMOR EM VISITA


Escultura de Armando Correia
(...)
Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.
(...)
Herbérto Helder

Encomenda


"Desejo uma fotografia

como esta — o senhor vê? —
como esta: em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,

derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga,
que me empresta um certo ar de sabedoria.
Não meta fundos de floresta

nem de arbitrária fantasia...
Não...
Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia."

Cecília Meireles

Quinta


o cheiro do laranjal ali ao lado
o barulho da água que corre solta
a minha vida tanto aqui